sexta-feira, 24 de abril de 2009

Verdade

 

Poema de: Carlos Drummond de Andrade

© Graña Drummond

[carica.gif]


A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.


E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.


  

Pintura de Samuka de Sousa


Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.

Era dividida em metades
diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.


Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.

 

Postado originalmente em : O Monge Hitech

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