terça-feira, 21 de abril de 2009

Carinho Triste

Manuel Bandeira

 

A tua boca ingênua e triste
e voluptuosa, que eu saberia fazer
sorrir em meio dos pesares e chorar em meio das alegrias,
a tua boca ingênua e triste
é dele quando ele bem quer.


Os teus seios miraculosos,
Que amamentaram sem perder
o precário frescor da pubescência,
teus seios, que são como os seios intactos das virgens,
são dele quando ele bem quer.


O teu claro ventre,
onde como no ventre da terra ouço bater
o mistério de novas vidas e de novos pensamentos,
teu ventre, cujo contorno tem a pureza da linha do mar e céu ao por do sol,
é dele quando ele bem quer.


Só não é dele a tua tristeza.
Tristeza dos que perderam o gosto de viver.
Dos que a vida traiu impiedosamente.
Tristeza de criança que se deve afagar e acalentar.
( a minha tristeza também!...)
só não é dele a tua tristeza, ó minha triste amiga!
Porque ele não a quer!

 

Manuel Bandeira

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