sexta-feira, 24 de abril de 2009

Congresso Internacional do Medo

Carlos Drummond de Andrade © Graña Drummond

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Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos. Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços, não cantaremos o ódio porque esse não existe,existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro, o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas, cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte, depois morreremos de medo e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.

Verdade

 

Poema de: Carlos Drummond de Andrade

© Graña Drummond

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A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.


E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.


  

Pintura de Samuka de Sousa


Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.

Era dividida em metades
diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.


Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.

 

Postado originalmente em : O Monge Hitech

terça-feira, 21 de abril de 2009

Carinho Triste

Manuel Bandeira

 

A tua boca ingênua e triste
e voluptuosa, que eu saberia fazer
sorrir em meio dos pesares e chorar em meio das alegrias,
a tua boca ingênua e triste
é dele quando ele bem quer.


Os teus seios miraculosos,
Que amamentaram sem perder
o precário frescor da pubescência,
teus seios, que são como os seios intactos das virgens,
são dele quando ele bem quer.


O teu claro ventre,
onde como no ventre da terra ouço bater
o mistério de novas vidas e de novos pensamentos,
teu ventre, cujo contorno tem a pureza da linha do mar e céu ao por do sol,
é dele quando ele bem quer.


Só não é dele a tua tristeza.
Tristeza dos que perderam o gosto de viver.
Dos que a vida traiu impiedosamente.
Tristeza de criança que se deve afagar e acalentar.
( a minha tristeza também!...)
só não é dele a tua tristeza, ó minha triste amiga!
Porque ele não a quer!

 

Manuel Bandeira

quarta-feira, 8 de abril de 2009

A NOITE DO MEU BEM - Dolores Duran (letra)

Dolores Duran

Hoje eu quero a rosa mais linda que houver
E a primeira estrela que vier
Para enfeitar a noite do meu bem
Hoje eu quero paz de criança dormindo
E abandono de flores se abrindo
Para enfeitar a noite do meu bem
Quero a alegria de um barco voltando
Quero ternura de irmãos se encontrando
Para enfeitar a noite do meu bem
Ah! eu quero o amor, o amor mais profundo
Eu quero toda beleza do mundo
Para enfeitar a noite do meu bem
Ah! como este bem demorou a chegar
Eu já nem sei se terei no olhar
Toda pureza que eu quero lhe dar.

A NOITE DO MEU BEM - Dolores Duran (letra)

terça-feira, 7 de abril de 2009

AS ROSAS NÃO FALAM

Cartola

Bate outra vez
Com esperanças o meu coração
Pois já vai terminando o verão,
Enfim
Volto ao jardim
Com a certeza que devo chorar
Pois bem sei que não queres voltar
Para mim
Queixo-me às rosas,
Mas que bobagem
As rosas não falam
Simplesmente as rosas exalam
O perfume que roubam de ti, ai
Devias vir
Para ver os meus olhos tristonhos
E, quem sabe, sonhavas meus sonhos
Por fim

AS ROSAS NÃO FALAM - Cartola (letra)

segunda-feira, 6 de abril de 2009

MORTE E VIDA SEVERINA

Composição: Chico Buarque sobre poema de João Cabral de Mello Neto

Esta cova em que estás, com palmos medida
É a conta menor que tiraste em vida
É de bom tamanho, nem largo, nem fundo
É a parte que te cabe deste latifúndio
Não é cova grande, é cova medida
É a terra que querias ver dividida
É uma cova grande pra teu pouco defunto
Mas estarás mais ancho que estavas no mundo
É uma cova grande pra teu defunto parco
Porém mais que no mundo, te sentirás largo
É uma cova grande pra tua carne pouca
Mas à terra dada nao se abre a boca
É a conta menor que tiraste em vida
É a parte que te cabe deste latifúndio
(É a terra que querias ver dividida)
Estarás mais ancho que estavas no mundo
Mas à terra dada nao se abre a boca

 

MORTE E VIDA SEVERINA - Chico Buarque (letra)